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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Escuridão

         Com a foto de uma garota em uma das mãos, e uma garrafa contendo bebida alcoólica na outra, Travis andava cambaleante e sem rumo pelas ruas da cidade. Decepcionado mais uma vez com o amor, o jovem rapaz queria de qualquer maneira dar um fim na incessante dor em seu coração.
          Travis sempre foi uma boa pessoa, sempre acreditou que um dia encontraria alguém que o amasse de verdade, mas, isso não aconteceu, pelo menos até aquele momento. Quando pensou ter encontrado o amor, apenas descobriu que para tê-lo, era necessário possuir mais coisas do que ser alguma coisa. Esse momento de decepção amorosa mexeu muito com Travis.
          Apoiando-se em muros, portões e postes, Travis continuava madrugada adentro andando em círculos pelas ruas quase que desertas. Já sem conseguir raciocinar direito e começando a ter enjôo devido à quantidade excessiva de álcool consumido, Travis entrou no único bar que ainda estava aberto. A primeira coisa que fez foi perguntar para o dono onde ficava o banheiro. O homem, mesmo desconfiado, apontou a direção para o jovem rapaz. Assim que entrou no banheiro, Travis foi direto para a pia e lavou seu rosto por diversas vezes, depois, ficou se olhando no espelho por alguns segundos, quando de repente, em um acesso de raiva, deu um violento soco contra o espelho. O vidro se estilhaçou e caiu por todo o local, Travis olhando todos aqueles pedaços de vidro, teve uma idéia, pegou um caco e tomou a mesma atitude da maioria dos suicidas. Aos poucos, tudo foi escurecendo.
          Alguns tempo depois, não se sabe exatamente quanto, Travis acordou. Mas ele já não estava mais no chão do banheiro do bar, ele acordou em um lugar diferente, escuro e frio. Ainda deitado ele olhou para todos os lados, e aos poucos foi reconhecendo o local. Travis estava em sua própria casa, em seu próprio quarto. A principio estranhou estar ali, não se lembrava de nada, mas outra coisa chamou ainda mais a atenção de Travis. Nada na casa parecia estar como de costume, todas as coisas estavam deterioradas, moveis, paredes, janelas, objetos, parecia que o local estava abandonado há muitos anos.
          Com muita dificuldade Travis se levantou, e em meio aquela quase total escuridão, quase porque o ambiente era iluminado por uma estranha claridade vinda de fora, a primeira coisa que veio em sua mente foram os seus pais. Então, mesmo sentindo-se mal, Travis saiu apressadamente do seu quarto e passou a andar pela casa a procura deles. Mesmo com toda aquela confusão mental, seus pais eram sua única preocupação. Se não bastasse o clima sombrio e opressor da escuridão, Travis ainda sentia os efeitos do álcool, e pior, sentia as dores no seu pulso causado pelos cortes, que alias, ainda sangravam. Só assim ele se lembrou do que havia feito no chão do banheiro do bar. Foi ai que Travis entrou em desespero.
          Confuso, sangrando e com medo, Travis tentou desesperadamente sair da casa, mas não conseguiu. Tentou as portas, mas estavam trancadas, tentou as janelas, mas também não conseguiu abri-las, só depois foi para o único local em que conseguiu deixar a casa, o quintal. E foi no quintal que o desesperado rapaz encontrou seus pais. Os senhores de idade estavam sentados, cada um em uma cadeira de balanço, imóveis, com os olhos fechados e duros como pedra. Travis chamou por eles, os sacudiu, gritou desesperadamente, mas nada aconteceu, eles continuaram imóveis.
          Travis olhou para os lados e percebeu algo que o perturbou ainda mais. Dos muros da sua casa em diante estava tudo escuro, parecia que só existia aquele local no meio de um limbo, no meio de uma escuridão tenebrosa. Mas algo ainda estava para acontecer.
          Enquanto Travis lamentava ajoelhado, chorando desesperadamente, ele sentiu uma mão apoiar-se sobre seu ombro esquerdo. Ao virar a cabeça para ver o que ou quem era, se deparou com um vulto negro acinzentado, que emitia uma leve, mas sinistra gargalhada.
          Travis se apavorou de vez, mas mesmo assim conseguiu correr daquele pavoroso ser, mas como não tinha outro local para ir, correu para dentro da casa. O vulto foi atrás de Travis e o perseguiu por toda a casa. Travis podia perceber sua presença, pois podia ver seus olhos brancos que se destacavam na escuridão, além de sua gargalhada amedrontadora. No meio de toda a correria, Travis tropeçou e caiu batendo violentamente a cabeça contra uma parede. Atordoado, o rapaz viu o vulto se aproximar dele, mas o estranho ser nada fez, apenas ficou olhando Travis caído no chão. Poucos segundos depois, Travis desmaiou.
          Algumas horas depois, Travis acordou. O rapaz despertou gritando desesperadamente, logo, foi amparado por médicos. Travis estava em um hospital. Mais uma vez sem entender nada, e depois um mais calmo, ele ouviu dos médicos que foi encontrado em um banheiro de um bar, desmaiado e com os pulsos cortados. Disseram que ele sobreviveu por muita sorte.
          A mãe de Travis adentrou a sala e muito emocionada o abraçou. O jovem perguntou diversas vezes se ela estava bem, e sim, não só sua mãe, mas como seu pai também estava bem.
          Depois, mais memórias vieram à mente de Travis. Ele se lembrou do momento em que foi dispensado pela garota que amava, lembrou do momento em que seus pais queriam ajudá-lo, e lembrou do momento em que descarregou toda a sua raiva em cima deles. Travis se lembrou das palavras ofensivas e pesadas, que disse para aqueles que realmente estavam do seu lado em um momento difícil. Travis sabia que a culpa na consciência o acompanharia pelo resto da vida. Também se lembrava de todo aquele terror que passou, se lembrava daquele pavoroso ser que o perseguiu, mas não sabia se aquilo tudo foi verdade, se realmente presenciou tudo, ou se aquela situação desesperadora foi um sonho, um delírio de sua mente, se foi um alerta ou um tipo de punição.

Autor : Felipe AG

4 comentários:

  1. Felipe, o seu conto é maravilhoso, não dá vontade de parar de ler até o desfecho final porque nós pensamos sempre no bem vencendo o mal. E mais uma vez a vida prevalece mesmo a muitos momentos cinzentos.

    Continue escrevendo. Parabéns!

    Grande abraço!

    Sonia Salim

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